Funcionários da Secretaria Regional Pampulha, juntamente com alguns usuários da Saúde Mental, seus familiares e funcionários do Centro de Convivência Pampulha (CCP) se reuniram na tarde de quinta-feira, dia 08, para uma roda de conversa. Em torno de 30 participantes puderam aprender um pouco sobre as atividades oferecidas naquele serviço e se emocionar com as histórias ouvidas.
A conversa teve início com Victor Martins, trabalhador e militante na luta antimanicomial, que parabenizou as mulheres pela trajetória de lutas e conquistas através de movimentos para marcar seu espaço na sociedade. “Assim como esse dia 8 de março, nós também temos o dia 18 de maio como marco da luta antimanicomial que é uma luta contra a discriminação e o preconceito”, disse. Para Victor, que frequentou o Centro de Convivência por quatro anos, participando de várias oficinas e outras atividades, a diferença não é motivo de distância ou exclusão. Atualmente ele se posiciona como um colaborador da rede de saúde mental, mantendo os vínculos que estabeleceu nesse espaço: “Eu estou praticamente fora, mas continuo intimamente amarrado a essa rede. Particularmente espero que esta luta tenha vida longa, mas também que ela acabe logo, porque é importante conviver e respeitar”, afirmou. Finalizou sua participação declamando o poema “À espera de um milagre” de sua autoria.
A gerente do Centro de Convivência Pampulha, Wilma dos Santos Ribeiro, explicou que a política do município de Belo Horizonte para os portadores de sofrimento mental é antimanicomial, promovendo o tratamento em liberdade. “Na rede de saúde mental do município, o Centro de Convivência trabalha para a inserção social dos usuários, e tem a arte como recurso importante na interlocução com a sociedade. É importante não excluir, aceitando as diferenças e convivendo com elas”, pontuou.
Histórias e emoção
Ansiedade e muitas preocupações era a situação vivida pela família de D. Nilza, mãe de uma das usuárias do Centro de Convivência Pampulha, quando a filha manifestou os primeiros sintomas de sofrimento mental. “Nós não entendíamos o que estava acontecendo e a situação da Neide adoecia toda a família. Queríamos uma solução para o problema dela sem que isso significasse calmantes e manicômio; então, em 1995, ela foi encaminhada para o Centro de Convivência e a situação foi mudando aos poucos para nossa alegria”, disse. D. Nilza explicou que a convivência com a arte e a música abriu os horizontes para sua filha, que voltou ao convívio social e quer retomar os estudos. “Todos agora falam que a Neide é uma artista. Antes ela era excluída, mas hoje participa normalmente de festas, pega ônibus como uma pessoa normal. Agradeço a todos que colaboraram. Estamos seguindo em frente. Valeu a pena,” contou emocionada.
Ao participar das atividades do CCP, Neide aprendeu a se conhecer melhor e a estabelecer seus próprios limites: “Encontrei aqui pessoas que me ajudaram muito. Os professores são ótimos, me incentivaram a estudar. Até já me esqueci do tratamento no Galba Veloso; hoje vem na minha cabeça só coisas boas e coloridas”, disse.
Normalmente o portador de sofrimento mental traz consigo uma carga de preconceito como consequência da exclusão social em que vive. Para amenizar esta situação, é necessário um trabalho intenso que começa com a aceitação de si mesmo até que se alcance uma nova forma de si ver. É esta a opinião de Paulo dos Reis Braga, usuário, monitor de marcenaria artesanal no CCP e presidente da Associação de Usuários dos Serviços de Saúde Mental de Minas Gerais – ASUSSAM-MG. “O trabalho do Centro de Convivência possibilita a nós, usuários, ser e estar, nos ver com outros olhos, como cidadãos capazes de conviver socialmente”, afirmou.
Para Ana Maria, que apresentava quadro de depressão profunda e já não conseguia viver sua normalmente, o CCP lhe proporcionou a descoberta de um grande talento: “Foi aqui que nasceu o dom para os trabalhos manuais: descobri que sou uma artista e tenho me destacado em mosaico, desenho, pintura e tapeçaria. Hoje eu sou uma outra mulher; voltei a estudar, quero fazer o 2º grau e cursar uma faculdade como o Victor, que faz Física na UFMG. O sonho renasceu dentro de mim. Encontrei aqui uma família, tenho vários irmãos. O Centro de Convivência é tudo de bom”, declarou.
Convidado a participar da roda de conversa, César Vinícius, representante da Gerência Regional de Políticas Sociais Pampulha e membro da Comissão de Promoção da Igualdade Racial na Pampulha, disse que se surpreendeu com a conversa: “Quando me sentei aqui pra participar, achei que seria chato, mas me surpreendi com o que ouvi, abriu-se para mim uma nova perspectiva que me fez refletir na questão das diferenças”, declarou.
A seguir, foi exibido o filme “Centro de Convivência Pampulha: um lugar de contato com a cultura e a vida cotidiana” que mostrou algumas das atividades realizadas lá como oficinas e passeios, além de depoimentos de alguns usuários. Finalizando a roda de conversa, os participantes degustaram um saboroso coffee-break, comprovando que o CCP é realmente um lugar de se fazer arte, amigos e construir pontes para se relacionar consigo mesmo e com o mundo.